Jabuti Xereta
Um adeus
Este site não será mais atualizado, e permanecerá como arquivo até quando os servidores de Neocities permitirem.
Você pode acessar as páginas clicando aqui.
Mas por quê?
Em 2023, quase metade do tráfego on-line foi de robôs, alguns dos quais conseguem fingir serem humanos melhor do que muitos humanos Fonte: "Robôs são quase metade do tráfego da internet — por enquanto", CanalTech, dezembro de 2023. Link de acesso. . O único jeito de ser uma pessoa on-line, hoje, é ter um nome que se parece um nome próprio e uma identidade consistente, mais ou menos fixa, que esteja dentro de um padrão aceitável: ser identificável como alguém-que-faz-alguma-coisa - desenvolvedor de código, artista, escritor. Boa parte dos sites pessoais hoje são reflexo da vida profissional, ou um contos de fadas, recortes de uma vida que não existe, "blogueirinhes", "influencers". É conteúdo, palavra que abomino, a redução da criação, da vivência a algo a ser consumido.
Sites como o meu um são exercício de nostalgia. Hoje, considero isso fútil. Uma tentativa de magia necromante, de trazer de volta uma Web que deixou de existir há pelo menos 14 anos. E a nostalgia é, antes de tudo, um exercício de luto.
Este site surgiu por luto: luto por uma parte de mim que eu via se desfazer, sem a qual eu não me reconhecia. Luto pela Web que me permitiu fazer parte de comunidades, conhecer os amigos que tenho hoje, viver tudo o que não pude viver no espaço-da-carne por ser uma pessoa queer e com deficiências. Luto pela Web que me permitiu ter um lar. Nos últimos tempos, esse luto se tornou um veneno: pela ânsia de trazer o que era bom de volta dos mortos, eu me vi incapaz de criar coisas novas. Incapaz de ver que, apesar de tudo, ainda existe vida em mim. E ela existe fora daqui, da Web, nos momentos em que estou em paz com meu corpo, na redescoberta do papel e de outras ferramentas analógicas.
Não é que eu tenha aprendido a fazer o espaço-da-carne funcionar para mim. É muito mais que eu entendi que meu corpo sou eu, que meu corpo não é um fantoche que minha mente controla. E também, e talvez ainda mais, a angústia de ver espaços tão importantes para mim serem colonizados pela censura, pelos robôs e por um ciclo de "engajamento negativo" que leva mais lucro àqueles que já são monstruosamente ricos.
Eu já não vejo mais sentido em fazer parte dessa resistência. Não vejo mais sentido em querer trazer de volta a Web 1.0. Quero transformar esse luto em outra coisa, e isso involve desistir deste site, desistir da ideia da Web como espaço. Como muitos sites que visitava, o meu se tornará um mais um túmulo em um cemitério. E quando Neocities fechar - o que sei que vai acontecer eventualmente -, vai ser só mais um fantasma. E eu estou bem com isso.
Agradeço a todes que visitaram.
- caramujo / 12 de maio de 2024