Jabuti Xereta

Meu gênero é butch

31 de Janeiro, 2024

Imprimir / Salvar PDF

Meu gênero é butch.

Não me sinto próximo de homens trans binários porque o que temos em comum não me acolhe, e nossas diferenças me afastam. Não me considero uma pessoa não-binária porque não me parece certo, como uma roupa que é larga demais em alguns lugares e apertada em outros. Mas também não sou mulher. Nunca me senti mulher. A mulheridade sempre foi, e é, uma lente que as pessoas usam para me ver e me julgar.

Passei quase 10 anos da minha vida me identificando como lésbica, e não quero desmerecer isso. Meu conforto e identificação com a masculinidade recriada por butches e caminhoneires sempre foi a base de eu me considerar como tal, muito mais que minha atração por mulheres. Por muitos anos, eu não sabia que esse tipo de masculinidade podia existir fora da existência lésbica.

Minha atração é por pessoas masculinas: homens, mulheres, pessoas não binárias, gordes e peludes, e não me relaciono com minhes parceires do jeito que a cisheteronormatividade espera que uma mulher se relacione. Mas também não sou o que se espera de um homem: tenho seios, vulva, um quadril acentuado e estou bem com isso. E, também, não me sinto um homem, mesmo que a masculinidade e seus papéis sociais e relacionais sejam tão centrais em mim.

Meu corpo sou eu. Me vejo nele, e não quero cirurgias ou hormônios ou peças de roupas compressoras. Meu pau é uma prótese. Sem ela, sinto o membro fantasma na minha virilha.

Não sou homem, ou quase-homem, ou um homem diferente. Sou butch. Machorra. Maria-macho. Mulher que é homem, sem "também"s: só "mulher que é homem".

E tudo bem se for confuso. Ninguém precisa entender isso além de mim.