Jabuti Xereta
Techo Kaigi: 2021 a 2023
21 de Janeiro, 2024
Techo kaigi (手帳会議, algo como "reunião de agenda") é o nome em japonês que se dá para o momento em que você reflete sobre como você usa sua agenda, planner, diário e/ou seu sistema pessoal de organização cotidiana. Vi bastante vídeos sobre isso aparecerem no YouTube agora neste início de ano, e faz alguns meses que tenho pensado esporadicamente a respeito dessa minha organização, mas nunca formalizei em um texto coeso até agora.
Escolhi o período de 2021 a 2023 porque foi quando comecei a usar diários da maneira séria e mais ou menos consistente, e também porque foi nesse período que minha vida começou a mudar bastante.
Aviso que este texto pode ser maçante para quem não tem interesse pelo tópico de agendas e cadernos. É um relato de como usei essa ferramenta nesses últimos tempos, e é um texto bem longo.
A história
Volume I
Comecei o diário em novembro 2021. Utilizei um caderno A6 que tinha comprado alguns anos antes, que consistia em uma capa semelhante à butterfly stopper do Hobonichi, com um caderno quadriculado dentro.
Tinha estrutura básica de um bullet journal: listas de tarefas cotidianas e páginas com outras informações que julgava serem úteis, como ideias para projetos ou tarefas sem prazo definido.
Usava o método de anotações rápidas que Ryder Carroll demonstra em seu livro 0 Método Bullet Journal. Hoje noto que esse tipo de anotação não me ajuda muito, porque não me permite refletir a respeito do que estou escrevendo: são só fatos crus e resumidos, e isso não reflete nem um pouco a maneira que experiencio os acontecimentos. Nesta época, porém, isso era vantagem para mim: eu não me permitia pensar muito a respeito de nada, porque eu sempre chegava a um lugar que queria evitar, e que estava evitando há muitos anos àquele ponto.
Em geral, em 2021 meu diário foi só um conjunto de listas de afazeres e ideias, sem aprofundamento ou pesquisa. Em 2022, eu comecei a pesquisar mais a respeito do método bullet journal e a ler os artigos que estavam disponíveis na época no site deles. Um deles me chamou muito a atenção, sobre uma "bússola pessoal" Infelizmente o artigo não está mais disponível no site. uma página no início do caderno que contém uma lista de seus valores pessoais e outras características que lhe são importantes. Foi a partir daí que eu comecei a pensar mais a respeito de mim e do modo que eu estava vivendo, e como essas duas coisas eram dissonantes ao ponto de me gerar desespero.
Foi em 2022 então, logo nos primeiros dias de janeiro, que eu encarei o que estava evitando desde 2016: eu precisava largar mão da minha amizade mais antiga, porque nosso relacionamento estava me matando. Eu fiz isso, e em questão de dias, eu fui de alguém sem nenhuma perspectiva na vida para alguém que tinha um plano de curto prazo: fazer uma complementação pedagógica para dar aulas de Língua Portuguesa. Um mês depois, consegui um estágio remunerado, que veio a ser essencialmente meu primeiro emprego.
Com essas mudanças, incorporei outras coisas no meu diário: páginas para acompanhar finanças e estudo, além das tarefas do estágio. Mas tinha um problema: essas mudanças foram súbitas, e eu não consegui me adaptar tão facilmente. Isso se reflete no meu diário: várias páginas em branco, vários períodos em que não escrevi nada, outras páginas com colagens para ocultar o que foi escrito.
Em cima disso, eu estava também muito adoecido, e quase não dava conta do meu estágio de meio período. Em março, me consultei com uma reumatologista e recebi o diagnóstico de fibromialgia. Incorporei, então, outro item na minha escrita cotidiana: uma tabela para acompanhar intensidade de sintomas.
Em julho de 2022, comecei a experimentar com layouts diferentes nas páginas. Vejo nisso que eu estava sentindo que não dava conta das coisas que tinha para fazer: tentava listas mais elaboradas para ver se as tarefas ficavam mais simples. Isso continuou em agosto, quando recomecei o diário no mesmo caderno. Não adiantou: continuei pulando dias e procrastinando tarefas. Resolvi abandonar o caderno no final do mês, decepcionado por não conseguir me organizar.
Volume II
Em setembro de 2022, iniciei um novo caderno, mesmo que ainda tivesse várias folhas em branco no anterior. Este segundo caderno me acompanhou até agosto de 2023, e documenta toda minha evolução pessoal nesses 11 meses.
A estrutura deste caderno começou mais complexa: incluía coleções organizadas de tarefas pendentes, duas listas fixas de compras miscelâneas e uma de livros, um log futuro e páginas mensais divididas em calendário com agenda para compromissos do estágio e da faculdade, espaço de planejamento financeiro e um acompanhador de sintomas e humor que tomava uma página inteira, e incluía símbolos e cores diferentes. Minhas páginas diárias também incluíam informações como a temperatura e a condição do céu no dia, e eu dividia a página em duas colunas: uma para tarefas e outra para acontecimentos do dia, ainda utilizando anotações rápidas.
Dia 8 de setembro, eu escrevi a primeira página de reflexão no diário. Foi quando recuperei memórias de alguns acontecimentos traumáticos da minha infância, e as memórias tinham vindo enquanto eu escrevia. A partir daqui, eu passei a usar o diário como o principal lugar para refletir sobre mim, minha vida e história, onde eu estava hoje e como havia chegado ali. Várias páginas sobre educação emocional começaram a surgir, e minhas tentativas de continuar com as listas de afazeres não eram muito frutíferas. Minhas páginas diárias envolviam mais anotações sobre como estava me sentindo, o que andava pensando e outras impressões subjetivas, em vez de fatos que aconteceram no dia. Outras páginas como ideias do que fazer sem computador/celular e tentativas de montar rotinas demonstravam que eu não estava mais vivendo tanto na minha cabeça, mas estava me voltando para o mundo fora de mim. Lembro que eu me sentia mais centrado, e as responsabilidades do estágio e da faculdade não me sobrecarregavam tanto.
Na metade de novembro daquele ano, eu fui convocado para tomar posse de cargo de um concurso público que prestei em 2018. Novamente uma grande mudança na rotina que demorei para me adaptar, e isso reflete nas páginas do diário: meu acompanhador de sintomas ficou em branco a partir do dia 14, quando comecei a me organizar para começar a trabalhar no dia 17, e não surgiu mais nos outros meses. Àquele ponto eu já tinha terminado o ano da faculdade, e como minhas responsabilidades no trabalho eram mais mecânicas, eu não via sentido em utilizar listas de tarefas. Minhas páginas passaram a ser reflexivas, com listas de tarefas apenas quando de fato tinha algo para fazer.
A partir de dezembro de 2022, isso foi se refinando, até que o caderno se tornou unicamente um espaço de reflexão sobre meus traumas, deficiências e doenças crônicas. Era um espaço para pensar sobre o que eu sentia e experienciava, e sobre as coisas que eu queria mudar, mas sem planos ou objetivos concretos. Isso foi até o final de maio de 2023, quando eu me inscrevi para o concurso da SEE do estado de São Paulo. A partir daí, as listas de tarefas voltaram a ser úteis, mas eu me sentia profundamente desconfortável em misturar as listas de tarefas com os meus desabafos e explorações a respeito das minhas maiores dificuldades. Eu sentia que só tinha coisas pesadas e difíceis no diário, e nada que fosse bom ou me fizesse feliz. Relaciono isso a como eu tenho mais facilidade de identificar emoções difíceis e problemas do que emoções como alegria e outras coisas boas em geral Repare que não consigo nem dar mais exemplos. .
Volume III
Em agosto, assim que prestei a prova do concurso, comecei a procurar outros sistemas para me organizar. Navegando no Reddit, conheci o canal no YouTube de Megan Rhiannon , uma mulher autista que fala principalmente sobre seu sistema pessoal de organização. Motivado por ela, tentei usar vários sistemas: um planner de fichário, um caderno espiral A5 e um caderno A5 brochura.
A lógica na minha cabeça era: eu não sou mais a pessoa que está naquelas páginas, então eu preciso trocar de caderno, de sistema Eu não considerava o peso que a percepção anterior de que meu caderno era "emocionalmente difícil" tinha. . Mas meu problema estava sendo que nenhum desses outros sistemas era confortável: o fichário me incomodava por não ter estrutura o bastante, e os outros cadernos por serem grandes demais - eu tinha passado esse tempo todo em um caderno A6, com metade do tamanho. Além disso, eu tinha começado a usar canetas tinteiro, e estava tendo dificuldades para me adaptar, mesmo que não quisesse admitir.
Ainda assim, permaneci no caderno brochura A5 até janeiro de 2024. No final de 2023, eu comecei a refletir mais sobre como usava meus cadernos, e ia além: comecei a pensar em como queria utilizá-los. Foi assim que cheguei no sistema que estou usando hoje.
Volume IV
Uma coisa curiosa: boa parte dessa reflexão de sistemas não foi feita no meu caderno selecionado para o diário. Foi feita em um caderno barato, que comprei com a intenção de usar como catálogo de receitas. Preenchi páginas e páginas de esquemas e das minhas necessidades de um sistema de diário e organização pessoal. Via vídeos e vídeos no YouTube e comecei a reler o livro de Ryder Carroll, na tentativa de encontrar o que eu estava fazendo de errado. Ao mesmo tempo, eu via palavras como "produtividade", "método", "objetivos" e torcia o nariz, pensando em como eram ladainhas capitalistas e que eu não precisava disso.
A esse ponto, meu sistema consistia em um caderno 9x13 que eu estava usando como carteira, e vários papéis desorganizados com anotações diversas.
Então, eu cedi. Comprei uma nova capa Hobonichi A6 e dois cadernos quadriculados iguais ao primeiro que usei, em 2021. Também comprei uma agenda 9x13 da Cícero, e vários arquivos digitais de inserts Traveler's Notebooks. Mais: me desfiz de todos os cadernos em branco que tinha aqui e arquivei os outros que tinham sido usados, mesmo que por pouco tempo. Estava decidido: utilizaria esses cadernos para me organizar, e apenas esses. O embrião do meu sistema estava montado.
Hoje
Admito: não estou usando tudo que está em meu sistema. Em partes porque passei os primeiros dias do mês bem ocupado, com burnout severo nos dias que antecederam minhas férias, e depois fiquei com meu companheiro do dia 11 até o dia 20. Apenas hoje (21 de janeiro) organizei tudo de fato, então mesmo que esteja aqui dizendo que este é meu sistema de 2024, eu não tenho certeza se ele vai funcionar De toda forma, estarei aqui em janeiro de 2025 com outro artigo falando a respeito. .
A estrutura é a seguinte:
- Capa Hobonichi A6: com três inserts, por enquanto: 1) páginas diárias semelhantes às da agenda Hobonichi: para escrever fatos do dia, além das minhas impressões, anotações de saúde e uma lista de coisas boas que aconteceram, ou pelas quais sou grato Ainda que eu não seja muito fã disso, depois que vi este vídeo do canal Kurzgesagt (em inglês, não encontrei no canal brasileiro) sobre a "ciência da gratidão", resolvi adotar a prática, para ver se me ajuda a identificar emoções positivas; 2) caderno para algum tópico específico que eu esteja estudando para fins pessoais, e não profissionais No momento, tenho pensado em utilizar para estudar o canal de Simie Iriarte e pensar sobre o que seria produtividade, objetivos e etc na minha vivência como anti-capitalista, PCD e doente crônico. ; e 3) Caderno quadriculado: para escrever reflexões mais extensas sobre meu emocional, o que tem acontecido na minha vida e meus interesses.
- Agenda Cícero 9x13: Lista de afazeres, agenda e planejamento financeiro.
- Caderno sem pauta Cícero 9x13: Informações importantes no caso de estar sem bateria no celular ou incapaz de me comunicar, coleções de outras informações úteis que utilizo com frequência (tamanho de roupas, tecidos que gosto, horário de ônibus etc) e anotações para quando eu estiver fora de casa. Este caderno fica na minha bolsa, e eu só tiro em casa quando preciso anotar alguma coisa útil.